Amma e Yurugu: caos e equilíbrio na história Dogon

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Introdução Por que o mundo é como é? Por que a ordem e o caos parecem caminhar lado a lado desde sempre?  Para o povo Dogon , do Mali , essas perguntas não são meras abstrações filosóficas — elas são respondidas por uma história ancestral que atravessa gerações.  No centro dessa narrativa estão duas figuras fundamentais: Amma , o princípio criador, e Yurugu (também chamado de Ogo ), a entidade da incompletude e da desordem.  Longe de serem apenas personagens simbólicos, eles representam forças reais e atuantes na construção e no funcionamento do universo.  A tradição Dogon não apresenta uma visão maniqueísta do mundo.  Em vez disso, oferece uma leitura complexa, onde o desequilíbrio não é um erro, mas uma parte inevitável do processo cósmico.  Este artigo mergulha na história de Amma e Yurugu , explorando suas ações, consequências e o que elas revelam sobre a visão Dogon da existência. Segundo os Dogon , Yurugu vagaria eternamente pelo cosmos em busca...

Kali: A Deusa da Transformação e Destruição

 Introdução


Kali, uma figura central no panteão hindu, transcende a mera representação de uma divindade; ela personifica a força primordial da transformação e destruição

Reverenciada por milhões, Kali é frequentemente retratada com uma aparência feroz, adornada com uma guirlanda de crânios e uma saia feita de braços cortados, empunhando armas e exibindo uma língua vermelha

No entanto, essa iconografia, que pode parecer assustadora à primeira vista, esconde uma profunda simbologia. 

Kali não é apenas a deusa da destruição, mas também da renovação, da proteção e da libertação. 

Ela representa a realidade implacável do tempo, que tudo consome e transforma, e a inevitabilidade da mudança.

A história de Kali está intrinsecamente ligada à luta entre o bem e o mal, à busca pela verdade e à transcendência das ilusões. 

Sua origem mitológica é rica em narrativas que ilustram seu papel como a destruidora de demônios e a protetora dos devotos. 

Kali desafia as convenções e os estereótipos, convidando-nos a confrontar nossos medos e a abraçar a impermanência da vida

Este artigo explora a complexa mitologia de Kali, sua iconografia multifacetada e as profundas reflexões que sua figura inspira, sem impor crenças, mas respeitando a riqueza de sua história e simbolismo.


Deusa Kali em pé no templo
Representação realista da deusa Kali, de pé em templo, com colunas e crânios ao redor.



Origens e Mitologia


A origem de Kali está intrinsecamente ligada à deusa Durga, uma das principais divindades do hinduísmo. 

Segundo a mitologia, Kali emergiu de Durga durante uma batalha épica contra demônios poderosos que ameaçavam o equilíbrio do universo. 

Em uma dessas batalhas, Durga enfrentou Raktabija, um demônio com a habilidade de se multiplicar a partir de cada gota de seu sangue que tocava o chão. 

Desesperada, Durga invocou Kali, que surgiu de sua testa, furiosa e implacável

Kali derrotou Raktabija bebendo todo o seu sangue antes que ele pudesse se replicar, salvando assim o universo da ameaça demoníaca.

Outra lenda conta que Kali nasceu da raiva de Shiva, o deus da destruição e transformação. 

Shiva, em sua forma irada, manifestou Kali para destruir o ego e a ignorância que impediam o progresso espiritual da humanidade. 

Kali, como a personificação da ira divina, dançou sobre os corpos dos demônios derrotados, simbolizando a destruição das ilusões e a libertação da alma.


Iconografia e Simbolismo


A iconografia de Kali é rica em simbolismo, cada elemento de sua representação carregando um significado profundo. 

Sua pele escura representa o vazio primordial do qual toda a criação emerge e para o qual retorna. 

A guirlanda de crânios que ela usa simboliza a natureza transitória da vida e a inevitabilidade da morte, lembrando-nos da importância de viver o presente. 

A saia feita de braços cortados representa a ação e o carma, as consequências de nossas escolhas e ações.

Kali é frequentemente retratada com quatro braços, cada um segurando diferentes objetos. 

Em uma das mãos, ela empunha uma espada, simbolizando a destruição da ignorância e do ego. 

Em outra mão, ela oferece uma cabeça decepada, representando a libertação do ciclo de nascimento e morte. 

As outras duas mãos estão em gestos de bênção e proteção, mostrando que, apesar de sua aparência feroz, Kali é uma mãe compassiva que cuida de seus devotos.

Sua língua vermelha, que se estende para fora de sua boca, simboliza a sede insaciável por destruir o mal e a ignorância. 

Seus olhos arregalados representam a visão clara e penetrante que vê além das aparências e percebe a verdade. 

Kali é frequentemente retratada dançando sobre o corpo de Shiva, simbolizando a energia feminina (Shakti) que anima e impulsiona a criação.


Kali na Cultura e Devoção


Kali é amplamente reverenciada na Índia e em outras partes do mundo, com muitos templos dedicados a ela. 

Entre os mais famosos está o Kalighat Mandir, em Calcutá, um dos principais centros de devoção à deusa. 

Outro grande destaque é o templo de Dakshineswar, também em Bengala Ocidental, onde milhares de devotos realizam oferendas e rituais em sua honra.

Um dos momentos mais vibrantes do calendário religioso hindu é o Kali Puja, celebrado especialmente em Bengala

Durante essa festividade, a deusa é homenageada com cânticos, danças, procissões e oferendas de flores e luzes, simbolizando a vitória da energia divina sobre as forças da escuridão

Diferente do Diwali, que celebra Lakshmi em grande parte da Índia, em Bengala a noite das luzes é dedicada a Kali, reforçando seu papel como protetora e guia espiritual.

No campo da espiritualidade contemporânea, Kali também é vista como uma força de empoderamento feminino, símbolo da libertação das amarras sociais e da coragem de enfrentar medos internos. 

Em algumas interpretações modernas, como na psicologia junguiana, Kali é entendida como um arquétipo do inconsciente coletivo, representando o confronto com as sombras e a necessidade de transformação interior.

Sua imagem também ultrapassou fronteiras culturais: em músicas, livros e artes visuais do Ocidente, Kali aparece como um símbolo da energia primordial, da revolução interior e da luta contra injustiças

Para muitos, ela é inspiração para enfrentar crises pessoais e reconhecer a beleza oculta nos processos de mudança.


Celebração do festival Kali Puja
Cena realista do festival Kali Puja em Bengala, com templo iluminado e devotos em adoração.



Conclusão/Reflexão


Kali, a deusa hindu da destruição e transformação, é uma figura complexa e multifacetada que desafia as nossas percepções e nos convida a refletir sobre a natureza da realidade. 

Sua iconografia, que pode parecer assustadora à primeira vista, esconde uma profunda simbologia que nos lembra da impermanência da vida, da inevitabilidade da mudança e da importância de confrontar os nossos medos.

Kali não é apenas a deusa da destruição, mas também da renovação, da proteção e da libertação. 

Ela representa a força primordial que destrói o velho para dar lugar ao novo, que remove os obstáculos e concede bênçãos. 

Sua história nos ensina que a destruição é uma parte necessária do ciclo da vida, que a morte é apenas uma passagem para uma nova existência e que a transformação é essencial para o nosso crescimento espiritual.

Ao contemplarmos a figura de Kali, somos convidados a questionar as nossas crenças e a explorar a nossa própria natureza. 

Ela nos desafia a confrontar os nossos medos, a abraçar a impermanência da vida e a confiar na força da transformação.

Kali nos lembra que, mesmo nos momentos mais sombrios, há sempre a possibilidade de renovação e que, através da destruição do ego e da ignorância, podemos alcançar a libertação e a verdade.

Essa mensagem não é exclusiva da tradição hindu, mas ecoa como um convite universal: aprender com as perdas, atravessar os ciclos de mudança e confiar na sabedoria maior que guia a vida. 

Assim, Kali transcende fronteiras religiosas e culturais, tornando-se um símbolo da força que habita em cada um de nós — a força que derruba o que não serve mais e abre espaço para o renascimento.

Portanto, ao invés de temermos a figura de Kali, podemos aprender a apreciá-la como um símbolo da força primordial que impulsiona a criação e nos guia em nossa jornada espiritual

Kali nos convida a abraçar a totalidade da vida, com suas alegrias e tristezas, suas luzes e sombras, e a confiar na sabedoria do universo.



Comentários

  1. Uma prova de que as aparências enganam, a pesar da aparência a deusa Kali é mais uma protetora da humanidade.

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