Amma e Yurugu: caos e equilíbrio na história Dogon
Do Homem ao Divino é um portal de conhecimento e revelações profundas sobre os grandes mistérios da humanidade. Aqui exploramos deuses ancestrais, mitos que podem ser verdades, livros apócrifos e proibidos, e as possíveis origens divinas ou cósmicas da criação. Do barro ao espírito, da terra as estrelas, mergulhe com a gente em uma jornada que desafia as versões oficiais da história. Se você busca respostas além da Bíblia, além da ciência e além do visível... este é o seu lugar.
Na cosmovisão Iorubá, a criação do mundo não é um ato explosivo de poder, mas uma sequência de tentativas, aprendizados e gestos sagrados.
O deus supremo Olodumare — também chamado de Olorun — é o criador do universo, mas delega aos Orixás a tarefa de moldar o mundo e os seres humanos.
Entre eles, Oxalá (ou Obatalá) recebe a missão de criar a humanidade.
O que se segue é uma jornada espiritual marcada por erros, persistência e uma revelação profunda: a vida só nasce quando há humildade e conexão com a terra.
Esse mito, transmitido oralmente por gerações, é mais do que uma simples história de origem.
Ele revela os valores centrais da cultura Iorubá: respeito pela ancestralidade, reverência à natureza, e a crença de que o divino está presente em cada gesto cotidiano.
A criação do ser humano não é feita de fogo ou pedra, mas de lama — mistura de água e terra — símbolo da flexibilidade, da fertilidade e da conexão entre o mundo físico e o espiritual.
Neste artigo, vamos explorar esse mito em profundidade, dividindo-o em seus momentos simbólicos, compreendendo o papel dos orixás e refletindo sobre o que ele nos ensina sobre a vida, a espiritualidade e o sagrado.
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| Diz a tradição que Oxalá precisou da lama dada por Nanã para dar forma à vida — sem ela, a criação não seria possível. |
No princípio, havia apenas o vazio e as águas primordiais. Olodumare, o deus supremo e fonte de todo Axé, contempla esse espaço e decide que é hora de criar o mundo.
Ele convoca Oxalá, o Orixá da pureza, da luz e da criação, e lhe entrega a missão de moldar os seres humanos.
Oxalá aceita com honra e parte para sua jornada criativa.
Mas o caminho não é simples.
Oxalá tenta criar o homem com diversos elementos: ferro, madeira, pedra, fogo, ar, azeite e vinho — todos falham. O ferro e a madeira são rígidos demais.
A pedra é fria. O fogo se consome. O ar se dispersa. O azeite e o vinho não têm forma.
Cada tentativa revela uma limitação, uma lição sobre a essência e a função de cada elemento.
Essas falhas não são vistas como derrotas, mas como parte do processo divino.
A criação exige mais do que força — exige sabedoria, paciência e humildade.
É nesse processo de tentativa e erro que se manifesta a essência dos ensinamentos iorubás: até mesmo os deuses precisam reconhecer seus limites diante dos mistérios da criação.
Cansado e entristecido, Oxalá se senta à beira de um rio, refletindo sobre suas tentativas frustradas.
É nesse momento que surge Nanã, a Orixá ancestral da sabedoria, da morte e dos mistérios do tempo. Guardiã das águas profundas e da memória da terra, ela representa a ligação entre o início e o fim, entre o nascimento e a morte.
Percebendo a angústia de Oxalá, Nanã pergunta a razão de sua tristeza.
Ao ouvir sobre as tentativas fracassadas, ela mergulha nas águas e retorna com lama nas mãos — a fusão perfeita entre água e terra.
Esse gesto simples, mas profundamente simbólico, carrega a resposta que faltava.
Oxalá molda o primeiro ser humano com esse material e, pela primeira vez, a criação é bem-sucedida.
O corpo é flexível, quente, capaz de se mover e de sentir.
Satisfeito, ele sopra o axé, o sopro vital, e dá vida ao ser humano.
Esse momento revela um princípio essencial da tradição iorubá: a criação só acontece quando há colaboração, humildade conexão com a natureza.
A lama não é apenas um elemento físico — ela representa a dualidade da existência.
A água é fluida, emocional, espiritual. A terra é firme, concreta, material.
Juntas, elas formam o corpo humano, que é ao mesmo tempo físico e espiritual, terreno e divino.
Na tradição Iorubá, essa dualidade é essencial. O ser humano é visto como um elo entre o céu e a terra, entre os Orixás e o mundo dos vivos.
A lama é o símbolo dessa ponte sagrada que permite que o axé flua e que a vida aconteça.
Além disso, a lama está associada à fertilidade, à transformação e à ancestralidade.
É com ela que se molda, que se planta, que se cura.
É o elemento que guarda os segredos da vida e da morte, lembrando que tudo que nasce um dia retorna ao ventre da terra.
Esse mito revela que a criação não é obra de um único deus, mas de uma rede de divindades que colaboram, compartilham saberes e atuam em harmonia.
Oxalá é o criador, mas é Nanã quem oferece o elemento essencial.
Olodumare é o originador, mas delega com confiança.
Essa dinâmica reflete a visão Iorubá de mundo: a vida é feita em comunidade, em diálogo, em respeito mútuo.
Os orixás não são figuras distantes — são forças vivas que atuam na natureza, nas emoções e nos ciclos da existência.
Cada um tem seu papel, seu domínio e sua energia.
Essa pluralidade divina também se reflete nas religiões da diáspora africana, como o candomblé, a santeria e o vodum, onde os orixás continuam sendo cultuados como guias espirituais e protetores.
Depois de moldar o corpo com lama, Oxalá sopra o axé — a energia vital que anima, transforma e conecta.
O axé é mais do que fôlego: é força espiritual, destino e essência divina.
Sem ele, o corpo é apenas barro. Com ele, torna-se humano.
Na cultura Iorubá, o axé está presente em tudo: nas palavras, nos gestos, nos rituais, na natureza.
É o que permite que o mundo funcione, que as relações se estabeleçam e que a espiritualidade se manifeste.
É o sopro que transforma o físico em sagrado e liga o ser humano ao divino.
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| As danças e tambores recordam o momento em que a vida ganhou forma — um gesto de gratidão a lama e ao divino que o moldou. |
O mito da criação Iorubá ensina que a vida não nasce da força, mas da escuta, da paciência e da conexão com a terra.
Oxalá, mesmo sendo um orixá poderoso, precisou reconhecer suas limitações e aceitar a ajuda de Nanã.
A lama, desprezada por muitos, tornou-se o elemento sagrado que permitiu a criação.
Essa história revela uma espiritualidade profunda, onde o divino não está no domínio, mas na colaboração.
Onde o sagrado não é distante, mas está presente na lama, no rio e no sopro.
O ser humano, feito de barro e axé, é ao mesmo tempo frágil e divino, terreno e espiritual.
Na tradição Iorubá, criar é um ato de amor, humildade e sabedoria ancestral.
E é por isso que esse mito continua vivo — não apenas como história, mas como ensinamento, como guia e como fundamento de uma cultura que honra seus orixás e reconhece que a vida é feita de lama, sopro e axé.
Sempre uma presença feminina na participação da criação assim como os Anunnakes.
ResponderExcluir👏👏👏👏😎
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