Amma e Yurugu: caos e equilíbrio na história Dogon

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Introdução Por que o mundo é como é? Por que a ordem e o caos parecem caminhar lado a lado desde sempre?  Para o povo Dogon , do Mali , essas perguntas não são meras abstrações filosóficas — elas são respondidas por uma história ancestral que atravessa gerações.  No centro dessa narrativa estão duas figuras fundamentais: Amma , o princípio criador, e Yurugu (também chamado de Ogo ), a entidade da incompletude e da desordem.  Longe de serem apenas personagens simbólicos, eles representam forças reais e atuantes na construção e no funcionamento do universo.  A tradição Dogon não apresenta uma visão maniqueísta do mundo.  Em vez disso, oferece uma leitura complexa, onde o desequilíbrio não é um erro, mas uma parte inevitável do processo cósmico.  Este artigo mergulha na história de Amma e Yurugu , explorando suas ações, consequências e o que elas revelam sobre a visão Dogon da existência. Segundo os Dogon , Yurugu vagaria eternamente pelo cosmos em busca...

A Criação do Mundo Segundo os Egípcios Antigos

Introdução


A civilização egípcia desenvolveu uma das mais sofisticadas narrativas sobre a criação do mundo, conhecida como cosmogonia de Heliópolis. 

Essa teoria não deve ser vista como mito ou crença imposta, mas como parte da história cultural de um povo que buscava compreender o universo ao seu redor. 

A criação egípcia não se baseia em um único texto ou dogma, mas em tradições transmitidas por templos, sacerdotes e registros simbólicos. 

A cidade de Heliópolis, considerada sagrada, foi o centro dessa narrativa, onde se acreditava que o universo emergiu do caos primordial.

A história começa com o Nun, o oceano infinito e escuro, onde nada existia. 

A partir dele, surge Atum, uma força criadora que dá origem aos primeiros elementos do cosmos. 

Essa narrativa não busca convencer, mas sim preservar a forma como os egípcios antigos interpretavam o início de tudo. 

Ao explorar essa teoria, é possível entender como a cultura egípcia estruturava sua visão de mundo, conectando natureza, divindades e sociedade em um sistema simbólico complexo.


Atum emergindo como energia dourada do oceano primordial
Representação cinematográfica de Atum surgindo do Nun: uma coluna de energia dourada que emerge das águas escuras, simbolizando a força criadora que separa o céu e a terra.



O caos primordial e o surgimento de Atum


Segundo os registros de Heliópolis, o universo nasceu do Nun, uma massa aquosa e silenciosa que representava o estado anterior à existência

Não havia terra, céu, luz ou tempo — apenas o potencial latente. 

A partir desse vazio, Atum emergiu espontaneamente, sem pai ou mãe, simbolizando o primeiro ato de criação. 

Ele não surgiu como uma figura humana, mas como uma força que se manifesta e organiza o caos.

Atum cria os primeiros pares divinos: Shu (ar) e Tefnut (umidade), que por sua vez geram Geb (terra) e Nut (céu). 

A separação entre céu e terra é um marco na estruturação do cosmos, permitindo o surgimento da ordem. 

Essa sequência de gerações forma a Enéade de Heliópolis, um conjunto de nove divindades que representam os principais elementos do universo. 

A narrativa revela como os egípcios concebiam a passagem do caos à organização, da escuridão à luz, da ausência à presença.


A estrutura do cosmos e seus elementos


Com a criação de Shu e Tefnut, o universo começa a ganhar forma. 

Shu separa Nut (céu) de Geb (terra), criando o espaço onde a vida pode se desenvolver. 

Nut é representada como uma figura arqueada cobrindo o mundo, enquanto Geb repousa abaixo, formando o solo fértil. 

Essa separação é essencial para que o tempo, a luz e os ciclos naturais possam existir.

A chuva, o vento, o nascer do sol — tudo passa a ter uma explicação simbólica dentro dessa estrutura. 

Os egípcios não viam esses elementos como fenômenos isolados, mas como partes de um sistema interligado e vivo. 

A cosmogonia de Heliópolis também introduz os conceitos de dualidade e equilíbrio, presentes em todas as relações cósmicas. 

Terra e céu, umidade e calor, ordem e caos — tudo coexistia em harmonia. 

Essa visão influenciava não apenas a religião, mas também a arquitetura, a agricultura e a política egípcia.


A Enéade e o ciclo da criação


A Enéade é composta por nove divindades: Atum, Shu, Tefnut, Geb, Nut, Osíris, Ísis, Set e Néftis. 

Cada um representa uma etapa da criação e uma função dentro do universo. 

Osíris e Ísis, por exemplo, estão ligados à fertilidade e à renovação, enquanto Set e Néftis simbolizam aspectos mais complexos como conflito e transformação.

Essas figuras não eram adoradas como deuses distantes, mas como representações de forças naturais e sociais. 

A criação egípcia não termina com o surgimento da terra e do céu, mas continua em ciclos de morte e renascimento, refletindo os ritmos do Nilo e das estações. 

A Enéade também servia como base para a legitimidade dos faraós, que eram vistos como mediadores entre o mundo humano e o cósmico. 

No entanto, essa conexão era simbólica, não dogmática. 

A narrativa da criação era uma forma de preservar a memória cultural e explicar o funcionamento do mundo.


Cosmogonias alternativas: Mênfis e Hermópolis


Embora Heliópolis tenha sido o centro da cosmogonia mais conhecida, outras cidades egípcias desenvolveram suas próprias versões da criação. 

Em Mênfis, o deus criador era Ptah, que não moldava o mundo com as mãos, mas o criava por meio da fala e do pensamento. 

Essa abordagem filosófica valorizava o poder da mente e da palavra como instrumentos de organização cósmica.

Já em Hermópolis, a criação era atribuída aos Oito Primordiais, forças elementares como escuridão, umidade, infinito e invisibilidade. 

Esses deuses não tinham formas humanas, mas representavam estados abstratos que precediam a existência. 

A partir da interação entre essas forças, surgia o primeiro raio de luz e o montículo primordial — símbolo da terra emergindo das águas.

Essas versões não competiam entre si, mas coexistiam como expressões regionais da mesma busca por sentido. 

Cada cidade adaptava a narrativa à sua tradição, aos seus templos e à sua função política. 

Isso mostra que a criação egípcia não era uma doutrina fixa, mas um sistema flexível e plural, aberto à interpretação e à adaptação.


Shu elevando o céu e separando-o da terra
Na cosmologia egípcia, Shu simboliza o ar vital que mantém o céu afastado da terra, permitindo que a criação exista — sem ele, tudo voltaria ao caos primordial.



Reflexão final


A teoria da criação egípcia é uma janela para o pensamento de uma civilização que buscava compreender sua existência por meio de símbolos, ciclos e relações cósmicas. 

Não se trata de impor crenças, mas de reconhecer a riqueza de uma tradição que influenciou arte, política e espiritualidade por milênios.

Ao estudar essa narrativa, é possível perceber como os egípcios conectavam o mundo visível ao invisível, o cotidiano ao eterno. 

A cosmogonia de Heliópolis não é uma verdade absoluta, mas uma história que revela o modo como um povo interpretava sua origem e seu lugar no universo.

Essa abordagem respeitosa e histórica permite que cada pessoa reflita sobre diferentes formas de entender a criação, sem julgamentos ou imposições. 

O legado egípcio permanece vivo não por sua literalidade, mas pela profundidade simbólica que continua inspirando interpretações até hoje.

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